sexta-feira, 27 de março de 2009

[MÚSICA] Tempos Modernos

Eu vejo a vida melhor no futuro
Eu vejo isto por cima do muro de hipocrisia
Que insiste em nos rodear
Eu vejo a vida mais clara e farta
Repleta de toda satisfação
Que se tem direito
Do firmamento ao chão
Eu quero crer no amor numa boa
Que isto valha pra qualquer pessoa
Que realizar
A força que tem uma paixão
Eu vejo um novo começo de era
De gente fina, elegante e sincera
Com habilidade
Pra dizer mais sim do que não, não não
Hoje o tempo voa, amor
Escorre pelas mãos
Mesmo sem se sentir
Que não há tempo que volte, amor
Vamos viver tudo o que há pra viver
Vamos nos permitir

Lulu Santos

quinta-feira, 26 de março de 2009

[CONTO] O Duplo

- Temos, então, um caso de desdobramento da personalidade do meu querido amigo?

- Quem te disse ?

- Laura.

Benito Soares ficou um momento encarado no coronel. Por fim, meneando com a cabeça, desabafou contrariando:

- Laura... Laura faz mal em andar contando essa história por aí.

- Que tem?

- Ora! Que tem... Há dias, em casa do Leivas, pouco faltou para que eu rompesse com o Malveiro, a propósito do que se deu comigo, e que lhe contaram não sei onde, entendeu que me devia tomar à sua conta, expondo-me à risota de uns petimetres ridículos que o cercam. Fiz-lhe sentir que não me agradavam os seus remoques e deixei-o com os tais mocinhos, que lhe aplaudem os versos quando ele lhes paga a cerveja ou o chá, aí por essas casas.

Não ando a pregar doutrinas: não sou sectário, não freqüento sessões nem leio, sequer, as tais obras de propaganda que pretendem revelar o que se passa no Além da morte. Sou religioso à velha moda, observando a doutrina que aprendi, ainda que não ande beatamente pelas igrejas de círio e ripanço. Cumpro rigorosamente os Mandamentos e os marcos que limitam a minha Crença são os quatro evangelistas; fora de tais "termos" não dou um passo - nem para diante, seguindo os reformadores, que pregam o novo Credo, nem para trás acercando-me de altares pagãos ou adorando ídolos grosseiros. Onde me deixaram meus pais, que foram os meus iniciadores, aí ficarei até morrer.

Contei a Laura a tal história como contaria um acidente qualquer de rua, sem cuidar que ela fizesse do caso assunto de palestra nos salões que freqüenta.

O resultado disso é o que se está dando comigo, aborrecendo-me, irritando-me, porque desconfio de todos os olhares e, se alguém sorri à minha passagem, imaginando que comenta o meu caso, fico logo pelos cabelos.

- Mas, afinal, como foi? Comigo podes abrir-te sem receio. Sabes que, além de discreto, não sou dos que zombam do sobrenatural. Os fatos ai estão: produzem-se, reproduzem-se e, se ninguém os explica, muitos dão deles testemunho e provas e eles, efetivamente, manifestam-se visível, sensivelmente.

Os cépticos encolhem os ombros sorrindo, os adversários, à falta de argumentos com que os destruam, bradam contra os que os apregoam. A verdade, porém, é que nos achamos diante de uma porta de bronze que nos veda um grande mistério, ou melhor - Mistério.

Mas já é muito havermos chegado à porta. Sente-se que além dos túmulos, que são limiares de outro mundo, há alguma coisa que... ninguém sabe o que é.

A porta mantém-se fechada, deixando apenas passar um rastinho de luz no qual flutuam indícios, revelações vagas, como átomos nos raios de sol. Mas deixemos as dissertações para mais tarde. Vamos ao teu caso. Foi, então, um desdobramento da tua personalidade...?

- Não sei que foi. Digo-te apenas que passei os minutos mais angustiosos da minha vida.

Saindo do Alvear, subi vagarosamente a Avenida até a Tabacaria Londres, onde comprei charutos e estive um instante a conversar com o Borges sobre coisas da vida.

O Borges anda com a mania dos Marcos; possuí não sei quantos milhões, e espera que a Alemanha recomponha as finanças para aturdir-nos, a nós e ao mundo, com a vida maravilhosa que tem toda em plano. O que me está parecendo é que o pobre está com o juízo em pior estado de que as finanças germânicas. Enfim, deixando o Borges, dirigi-me, sem mais empeços, para a Galeria, onde comprei os jornais.

O meu bonde apareceu logo e logo foi assaltado. Não consegui uma ponta e fiquei entalado no banco da frente, entre um obeso cavalheiro ruivo e uma matrona anafada, dessas que se esparralham.

O bonde partiu e, oprimido pelas duas enxúndias, dificilmente consegui abrir um dos jornais. Pus-me a ler, ou antes: a olhar a página porque, em verdade, a minha atenção vagueava, aí por longe. Os olhos passeavam pelas palavras, sem que o espírito lhe colhesse o sentido, como deve acontecer com os aviadores que vêem, de muito alto, todo o panorama de uma cidade em mancha, sem distinguir os bairros, as ruas, os edifícios, apenas o alvejamento das casas, a placa cintilante do mar, o relevo dos montes. Sentia-me atraído por alguma coisa. Voltei página do jornal - a mesma confusão, o mesmo empastamento. Foi então, que levantei a cabeça, olhando em frente e vi, meu amigo, vi...!

- Viste...?

- A mim mesmo, a mim! Eu, eu em pessoa sentado defronte de mim, no banco da frente, que dá costas à plataforma. Era eu, eu! como refletido em um espelho, e certo estremeci vivamente, incomodando os meus companheiros laterais, porque ambos voltaram-se encarando-se de má sombra.

Pasmado, sem poder desfitar os olhos daquele reflexo, que era, em tudo, eu: nas feições, na atitude, no trajo, não parecido, mas reproduzido em exteriorização, pensei de mim comigo:

"Se tal se dá é que o meu espírito, alma, ou lá o que seja, exalou-se de mim, deixando-me apenas o corpo, como a borboleta deixa o casulo em que se opera a metamorfose. Assim, pois, o que ali se achava, no bonde, era uma massa inerte, sustida pelos dois corpanzis que ladeavam. E, em menos de um segundo, vi todo o horror da cena, que seria cômica, se não fosse trágica, que se daria com a retirada de um daqueles gordos.

Desamparado, o meu corpo vazio tombaria. Dar-se-ia, então, o alarma: todos os passageiros de pé, a verificação da minha morte, o reconhecimento do meu cadáver pelo condutor e a minha entrada fúnebre em casa".

Que angústia, meu amigo ! E o outro lá estava em frente a olhar-me, como se gozasse com o meu sofrimento. Lembrei-me, então, de fazer um movimento com os braços, com as mãos; o receio, porém, de ser a minha vontade atendida pelos nervos fez-me hesitar. Mas eu pensava, raciocinava. Sim, mas o corpo não esfria de repente e tais pensamentos e tais raciocínios podiam ser ainda restos de energia d'alma que me houvessem ficado nas células, como fica nas polias o movimento ainda depois do motor parado.

Sentia-me rígido, petrificado e tinha a sensação de frio, como se me fosse congelando, a começar pelos pés. E o outro sempre encarado em mim.

Fiz um esforço supremo como se quisesse levantar o bonde com todos os passageiros que ele continha e, arremessando os braços, pus-me de pé.

A matrona levantou a cabeça com atrevimento e olhou-me com tal carranca que eu pensei que me fosse agatafunhar ou, com a força dos braços, que eram duas coxas, atirar-me do bonde abaixo e o ruivo roncou ameaçadoramente, aprumando a cabeçorra quadrada de ulano com entono de desafio.

Mas que me importavam ameaças A minha alegria era grande e tornou-se maior quando, ao procurar com os olhos o meu outro "eu", não o vi mais.

Teria descido? Não ! Não descera. Tornara a mim, atraído pela vontade, na ânsia de viver, no desespero em que me vi, só comparável ao de alguém que, indo ao fundo, sem saber nadar, debate-se agoniadamente conseguindo elevar-se à tona e gritar a socorro.

E tudo isso, meu amigo, não durou, talvez, um minuto e eu guardo de tais instantes a impressão penosa de um século de sofrimento.

Eis o meu caso, o caso que tantos aborrecimentos me tem trazido pela tagarelice de Laura, a quem o contei, e que o repete por aí, a todo o mundo.

E crença que D. Juan de Maraña, encontrando-se, certa noite, com um saimento, perguntou a um dos que conduziam o esquife: ' Quem era o morto?" E logo lhe foi respondido:

- É D. Juan de Maraña. Querendo o fidalgo verificar o que lhe dizia o farricoco e outros sinistramente repetiam, afastou o sudário e viu. Efetivamente: o defunto era ele. E tal visão foi que o levou ao arrependimento. Pois comigo a coisa foi num bonde. Eu vi-me, como te estou vendo; a mim, entendes? a mim! Como explicas tal coisa?

- Essas coisas, meu amigo, não se explicam: registam-se, são observações, fatos, elementos para a Ciência do Futuro, que será, talvez, Ciência da Verdade.

Coelho Neto

quarta-feira, 25 de março de 2009

[MÚSICA] Meu Bem Querer

Meu bem-querer
É segredo, é sagrado
Está sacramentado
Em meu coração

Meu bem-querer
Tem um "quê" de pecado
Acariciado pela emoção
Meu bem-querer, meu encanto
Tô sofrendo tanto

Amor
E o que é o sofrer
Para mim que estou
Jurado pra morrer de amor?

Djavan

terça-feira, 24 de março de 2009

[MÚSICA] Garganta

Minha garganta estranha quando não te vejo
Me vem um desejo doido de gritar

Minha garganta arranha a tinta e os azulejos
Do teu quarto, da cozinha, da sala de estar

Minha garganta arranha a tinta e os azulejos
Do teu quarto, da cozinha, da sala de estar

Venho madrugada perturbar teu sono
Como um cão sem dono me ponho a ladrar

Atravesso o travesseiro, te reviro pelo avesso
Tua cabeça enlouqueço, faço ela rodar

Atravesso o travesseiro, te reviro pelo avesso
Tua cabeça enlouqueço, faço ela rodar

Sei que não sou santa, as vezes vou na cara dura
As vezes ajo com candura pra te conquistar

Mas não sou beata, me criei na rua
E não mudo minha postura só pra te agradar

Mas não sou beata, me criei na rua
E não mudo minha postura só pra te agradar

Vim parar nessa cidade, por força da circunstância
Sou assim desde criança, me criei meio sem lar

Aprendi a me virar sozinha,
e se eu tô te dando linha é pra depois te abandonar

Aprendi a me virar sozinha
e se eu tô te dando linha é pra depois te abandonar

Ana Carolina

[POESIA] Amar É...

Amar é... sorrir por nada e ficar triste sem motivos, é sentir-se só no meio da multidão, é o ciúme sem sentido, o desejo de um carinho; é abraçar com certeza e beijar com vontade, é passear com a felicidade, é ser feliz de verdade!

Albert Camus

segunda-feira, 23 de março de 2009

[CRÔNICA] Para Mulheres Com Mais De 30 Anos

Isto é para as mulheres de 30 anos pra cima… E para todas aquelas que estão entrando nos 30, e para todas aquelas que estão com medo de entrar nos 30… E para homens que têm medo de meninas com mais de 30!!! “ A medida que envelheço, e convivo com outras, valorizo mais as mulheres que estão acima dos 30. Estas são algumas razões do porquê: - Uma mulher de 30 nunca o acordará no meio da noite para perguntar: “O que você está pensando?” Ela não se importa com o que você está pensa, mas se dispõe de coração se você tiver intenção de conversar. - Se a mulher de 30 não quer assistir ao jogo, ela não fica à sua volta resmungando. Ela faz alguma coisa que queira fazer. E, geralmente è alguma coisa bem mais interessante. - Uma mulher de 30 se conhece o suficiente para saber quem é, o que quer e quem quer. Poucas mulheres de 30 se incomodam com o que você pensa dela ou sobre o que ela esta fazendo. - Mulheres dos 30 são honradas. Elas raramente brigam aos gritos com você durante a ópera ou no meio de um restaurante caro. É claro, que se você merecer, elas não hesitarão em atirar em você, mas só se ainda sim elas acharem que poderão se safar impunes. - Uma mulher de 30 tem total confiança em si para apresentar-te para suas melhores amigas. Uma mulher mais nova com um homem tende a ignorar mesmo sua melhor amiga porque ela não confia no cara com outra mulher. E falo por experiência própria. Não se fica com quem não confia, vivendo e aprendendo né??? - Mulheres se tornam psicanalistas quando envelhecem. Você nunca precisa confessar seus pecados para uma mulher de 30. Elas sempre sabem…. - Uma mulher com mais de 30 fica linda usando batom vermelho. O mesmo não ocorre com mulheres mais jovens. - Mulheres mais velhas são diretas e honestas. Elas te dirão na cara se você for um idiota, se você estiver agindo como um! - Você nunca precisa se preocupar onde se encaixa na vida dela. Basta agir como homem, e o resto deixe que ela faça;. - Sim, nós admiramos as mulheres com mais de 30 por um “sem” números de razões. Infelizmente, isso não é recíproco. Para cada mulher de mais de 30, estonteante, inteligente, bem apanhada e sexy, existe um careca, velho, pançudo em calças amarelas bancando o bobo para uma garçonete de 22 anos. Senhoras, EU PEÇO DESCULPAS: Para todos os homens que dizem, “porque comprar uma vaca se você pode beber o leite de traça?”, aqui está a novidade para vocês: Hoje em dia 80% das mulheres são contra o casamento, sabe por quê? Porque as mulheres perceberam que não vale a pena comprara um porco inteiro só para ter uma lingüiça. Nada mais justo. Arnaldo Jabour

[POESIA] Obstinação dos Outros

Deixamos de beber
E em cada esquina
Abriram um novo bar.
Abandonamos o fumo;
Passam homens, crianças
E navios
A fumar.
A rua, como nunca, está cheia de mulheres
Jovens, lindas de corpo, sedutoras de andar.
Ah, mas já deixamos de amar.

Millôr Fernandes

sexta-feira, 20 de março de 2009

[CONTO] A Mãe dos Outros

Aprendi que para ser a melhor mãe do mundo não preciso ir a escolas nem consultar livros de psicologia, comprar sabão em pó especial, brinquedos ou chocolates conforme sugerido em propagandas televisivas. Absolutamente nada disso é necessário se você presta atenção quando seus filhos relatam experiências com as mães dos outros. Elas sempre têm, sabem e fazem tudo muito melhor que ninguém, são exemplo de paciência, tolerância, criatividade, disponibilidade, permissibilidade e estabilidade emocional.

Essas mães dos outros não possuem defeitos, são as mais perfeitas, consideram, por exemplo, normalíssimo comer chocolate meia hora antes do almoço ou jantar, sair de casa com camisa de manga curta em dia de inverno, dormir sem escovar os dentes e chegar tarde da noite em casa. Naturalmente elas permitem que o cachorro durma na cama com as crianças, não são histéricas em termos de higiene, pois possuem um alto grau de compreensão pelo bem-estar dos animais. Possuem incrível sensibilidade a barulho, adoram música no último volume, principalmente „rock“ e „rap“, acham ótimo ter caixas de som espalhadas por toda casa - até no banheiro, imaginem! Essas mães conhecem todos os nomes dos atuais grupos musicais e compram todos os CD`s disponíveis das lojas.

Elas entendem de moda jovem e acham „da horal“ usar jeans largos e caidos tendo o „cavalo“ na altura dos joelhos, camisetões velhos, tênis Air-Nike e óculos escuros usados como „arco“ na cabeça. Muito normal para elas que seus filhos cheguem às três horas da madrugada sem ao menos telefonar avisando onde e com quem estão e conseguem até dormir tranqüilas toda a noite sem a menor preocupação.

Só a mãe dos outros autoriza faltar à escola por uma simples dor de barriga em dia de prova e assinam „de olhos fechados“ as faltas às aulas de ginástica com a justificativa „indisposto“ escrita pelos próprios filhos. Jamais levantam o tom de voz, não se irritam por nada, são a doçura em pessoa, uns verdadeiros amores.

Outro dia uma dessas „mães dos outros“ me viu no supermercado e disse: „Ah! a senhora é a mãe do René, a mais perfeita mãe do mundo“. Olhei para ela espantada e respondi:

„Não, a mais perfeita mãe do mundo, de acordo com o René, é a senhora!“ Rimos e nos cumprimentamos por sermos as melhores mães do mundo - se trocarmos os filhos!

Rosângela Scheithauer

[MÚSICA] Bem Que Se Quis

Bem que se quis
depois de tudo ainda ser feliz
mas já não há caminhos pra voltar.
E o que é que a vida fez da nossa vida?
O que é que a gente não faz por amor?

Mas tanto faz,
já me esqueci de te esquecer porque
o teu desejo é o meu melhor prazer
e o meu destino é querer sempre mais,
a minha estrada corre pro seu mar

Agora vem pra perto vem
vem depressa vem sem fim, dentro de mim
que eu quero sentir
o teu corpo pesando sobre o meu,
vem meu amor vem pra mim,
me abraça devagar,
me beija e me faz esquecer
Bem que se quis.

Bem que se quis
depois de tudo ainda ser feliz
mas já não há caminhos pra voltar.
E o que é que a vida fez da nossa vida?
O que é que a gente não faz por amor?

Mas tanto faz,
já me esqueci de te esquecer porque
o teu desejo é o meu melhor prazer
e o meu destino é querer sempre mais,
a minha estrada corre pro seu mar

Agora vem pra perto vem
vem depressa vem sem fim, dentro de mim
que eu quero sentir
o teu corpo pesando sobre o meu,
vem meu amor vem pra mim,
me abraça devagar,
me beija e me faz esquecer...

Bem que se quis....

Marisa Monte

quinta-feira, 19 de março de 2009

[MÚSICA] Não É Fácil

Não é fácil, não pensar em você
Não é fácil, é estranho
Não te contar meus planos, não te encontrar
Todo dia de manhã enquanto eu tomo o meu café amargo
É, ainda boto fé de um dia te ter ao meu lado
Na verdade, eu preciso aprender
Não é fácil, não é fácil

Onde você anda, onde está você?
Toda a vez que eu saio me preparo para talvez te ver
Na verdade eu preciso esquecer
Não é fácil, não é fácil

Todo dia de manhã enquanto eu tomo o meu café amargo
É, ainda boto fé de um dia te ter ao meu lado
O que eu faço? O que eu posso fazer?
Não é fácil, não é fácil

Se você quisesse ia ser tão legal
Acho que eu seria mais feliz do que qualquer mortal
Na verdade não consigo esquecer
Não é fácil, é estranho

Marisa Monte

[POESIA] Perguntas

quero perder a noção do tempo...

só assim, não sentirei que está demorando...

e que irá demorar mais um pouquinho.

que coisa é essa que anseia tanto?

será que sente o mesmo?

ou só tuas palavras contém...

o que meu peito carrega neste instante?

perguntas!


Renata Giandotti

quarta-feira, 18 de março de 2009

[MÚSICA] Balança Pema

Balança a pema
Balança sem parar
Arrasta as sandálias
Arrasta até gastar
Pois quando você sambalança
Sambalança meu coração também
Ele sambalança certinho
Juntinho com o seu vai e vem
Balança a pema
Balança sem parar
Arrasta as sandálias
Arrasta até gastar
Se você jurar
Me ensinar sambalançar assim
Eu lhe darei uma sandália de prata
Para você sambalançar só pra mim

Marisa Monte

[CRÔNICA] Adiós Muchachos

O que você quer ser quando crescer?

"Salva-vidas" respondia invariavelmente o menino. Mentia. No íntimo, sonhava em ser Tintin, aventureiro solto no mundo, repórter, herói, resolvendo crises internacionais, desbaratando quadrilhas, divertindo-se um bocado. E Tintin ainda conseguia ser jornalista, sem escrever uma linha sequer. Em nenhuma das inúmeras aventuras pelo planeta, o repórter Tintin enviou uma matéria que fosse. Não precisava: ele era sempre a notícia.

No desejo de ser Tintin, o menino quase ficou tanta.

Pois o garoto cresceu e virou de fato um globe-trotter. Só para aprender que a vida nômade não passa de uma sucessão de encontros e despedidas. Perseguindo o mapa das encrencas, crises, guerras e revoluções, ele conheceu gente diante de situações-limite. E, nesses momentos, as amizades ganham uma intensidade insuspeitada em tempos de normalidade.

Assim, o menino ganhou amizades eternas que duraram três dias. Mais do que arte do encontro, a vida é o aprendizado da despedida. Pois a única conseqüência garantida do "muito prazer" é o adeus.

Dizem que os bebês choram quando a mãe se ausenta por dez minutos, pois para eles aquela foi uma partida definitiva. Eles não sabem que as pessoas vão e voltam. E quem sabe?

*

Não é melancolia, nem filosofia.

A indústria de fatos.segue, uma crise ali, um divórcio aqui, uma guerra, uma eleição — nos jornais, o mundo ganha uma ordem que não tem. Informar quer dizer "impor forma". Nas sociedades mais avançadas, há uma aparência de ordem. As instituições funcionam como camadas, que abafam, mascaram e organizam as relações essencialmente primitivas dos homens. Em matéria de emoções e necessidades, somos todos trogloditas.

Em momentos de crise e convulsão social, as camadas institucionais desabam e tornam aparente o emaranhado caótico das relações humanas. Esse mesmo caos está presente em sociedades desenvolvidas, mas é invisível. Porém, sob a ordem aparente, há sempre uma sociedade rebelde e dinâmica, que não obedece à lei do Estado. Em alguns casos, chama-se economia paralela; em outros, simplesmente Máfia.

*

Repórteres marcam gols quando revelam a intimidade entre as camadas mais visíveis e respeitáveis da sociedade e esse submundo paralelo. O Estado não só é impotente diante essa sociedade invisível, como também depende de seus mecanismos. Há uma promiscuidade onipresente entre lei e crime. Em alguns países, como o Brasil e a Rússia, essa promiscuidade é transparente, escandalosa. Nos Estados Unidos ou na Grã-Bretanha, esses laços escusos também existem e muitas vezes são o combustível da prosperidade. Em países como a Itália e a Espanha, essas ligações perigosas chegaram às primeiras páginas e aos tribunais.

*

O primeiro-ministro espanhol Felipe Gonzales sempre disse que não sabia de nada. Na melhor das hipóteses, é ignorância. Na pior, hipocrisia.

Escrevo antes do resultado das eleições na Espanha. Às vésperas da votação, todos anunciam a derrota do filipismo. A primeira vitória da direita espanhola desde a morte de Franco não deve ser interpretada ideologicamente. O povo precisava dizer não, o que é muito diferente de dizer sim a José Maria Aznar. “Treze anos de poder" conduzem à arrogância. Mesmo simpático e carismático, Gonzales caiu na arapuca da soberba. O homem que conduziu a Espanha à democracia, com o auxílio luxuoso do rei Juan Carlos, virou um ditador dentro de seu próprio partido. E fechou os olhos diante da corrupção.

Porém, mais do que a roubalheira, foi o desemprego que condenou Felipe Gonzales. José Maria Aznar promete resolver esse problema. Duvido. As economias ocidentais estão presas à contradição de retomada do desenvolvimento sem a criação de novos empregos. Desemprego não é mais um problema nacional, e sim a conseqüência da nova regra do jogo mundial, que no Brasil gostam de chamar de neoliberalismo.

*

A personagem mais divertida da política espanhola chama-se Cristina Almeida. É uma senhora gordota e hiperativa, que parece saída de um filme de Almodóvar. Entre suas façanhas, destaca-se a sedução de Sadam Hussein. Cristina foi a primeira emissária estrangeira a conseguir libertar os seus nacionais, parte do escudo humano de Sadam depois da invasão do Kuwait. Em meia hora de conversa com o ditador iraquiano a espanhola conseguiu a libertação de todos os reféns espanhóis, e acabou dando conselhos a Sadam sobre dores na coluna. Cristina Almeida pode ser a próxima estrela da esquerda espanhola. Populista chique, ela tem uma resposta pronta, quando indagada sobre os seus quilinhos, muitos, a mais:

— Depois do regime de Franco, eu não faço mais regime nenhum...

março/96


Pedro Bial

[POESIA] Elegia Che Guevara

Rosto de menino europeu fotografado com os olhos abertos
jovem garoto radiante feminino imberbe
tombado de costas sorrindo para cima
Calmo como se lábios de damas estivessem beijando invisíveis partes do corpo
Cadáver sereno de angélico garoto envelhecido
perceptivo Doutor Argentino, Comandante Cubano petulante
cachimbo na boca & escritor fiel de seus Diários
em meio aos mosquitos, Amazonas
Adormecido numa colina, tedioso trono de Havana renunciado
Mais sexy teu pescoço do que os tristes pescoço enrugados de
Johnson, de Gaulle, Kossygin,
ou o pescoço perfurado à bala de John Kennedy
Olhos mais vivazes encarando os jornais da morte
Que Câmaras do Congresso preucupadas e vívidas convertendo
os pontos de tela em sombras televisivs, olhos vítreos
de MacNamara, Dulles na velhice ardente... Mulheres com chapéu-coco sentadas nos arredores enlameados a
três mil metros de altura encravados no cêu
com dor de cabeça em La Paz
vendendo batatas trazidas de cabanas com teto de barro
desde puno nos lábios da montanha
teriam adorado teu desejo e adorado tua Face
novo Cristo
Elas erguerão uma máscara de guerra com olhos rubros de bulbos
colmilhos brancos para amedrontar soldaditos-fantasmas
que dispararam perfurando teus pulmões
Incrível!um garoto que abandonou a sala cirúrgica
deixou de curar hepatite no Pampa
Para enfrentar armazéns da ALCOA, Míriade de Assassinos do Conselho Diretivo da United Fruit
Trustes poluentes de Chicago
Advogados fantasmas alinhados com a morte
com firma reconhecida de John Foster Dulles' Dillon & Reed
O bigode de Acheson, o chapéu ossudo de Truman
Para enlouquecer e esconder-se na selva numa mula & apontar
seu rifle contra a OAS contra as cortesias egocêntricas,
distribuição de tropas metálicas do Pentâgono
Publicitários intrépidos e intelectuais obtusos
desde o Time até a CIA
Um garoto contra a Bolsa de Valores toda a Wall Street aos gritos
desde que Norris escreveu The pit
temeroso que chovessem dólares do terraço do Observatório
jogados por irmãos mais jovens debochados,
Contra a indústria de Enlatados,contra os serviços Telegráficos
contra o senso infra-vermelho dos cientistas obcecados
por dinheiro
do Capitalismo Telepata
contra Universitários aos milhões vendo Wichita Family de na TV
Rosto radiante enlouquecido com um rifle
Confrontando emissoras em cadéia elétrica.

Allen Ginsberg

terça-feira, 17 de março de 2009

[MÚSICA] Amor I Love You

Deixa eu dizer que te amo
Deixa eu pensar em você?
Isso me acalma
Me acolhe a alma
Isso me ajuda a viver

Hoje contei pras paredes
Coisas do meu coração
Passeei no tempo
Caminhei nas horas
Mais do que passo a paixão

É um espelho sem razão
Quer amor fique aqui?

Deixa eu dizer que te amo
Deixa eu gostar de você
Isso me acalma
Me acolhe a alma
Isso me ajuda a viver

Hoje contei pras paredes
Coisas do meu coração
Passeei no tempo
Caminhei nas horas
Mais do que passo a paixão

É um espelho sem razão
Quer amor fique aqui?

Meu peito agora dispara
Vivo em constante alegria
É o amor que está aqui

Amor I love you
Amor I love you
Amor I love you
Amor I love you(bis)

Primo Basílio - Eça de Queiroz (1878)
(é recitado por Arnaldo Antunes na música)

" - Tinha suspirado
Tinha beijado o papel devotamente
Era a primeira vez que lhe escreviam aquelas sentimentalidades
E o seu orgulho dilatava-se ao calor amoroso que saía delas
Como um corpo ressequido que se estira num banho lépido
Sentia um acréscimo de estima por si mesma
E parecia-lhe que entrava enfim uma existência superiormente interessante
Onde cada hora tinha o seu intuito diferente
Cada passo conduzia um êxtase
E a alma se cobria de um luxo radioso de sensações."

Amor I love you
Amor I love you
Amor I love you
Amor I love you

Marisa Monte